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antes disso não sei quem fui. antes de mim fui algo que não tinha começo. agora apago o que disseram que devia ser. começo a ser um eu coberta de revolta. impetuosa, rasgando o nome que me deram. nasço tropicaos. agora não sou a sombra de mim. não sou a sombra do que poderia ser. sei onde começo, de onde vim, sei de onde foram arrancadas minhas raízes. nada bloqueia minha garganta. nada veda minha voz. minha voz rasga o tempo e descubro que meu grito transforma desespero em ruína. daquilo que morreu no meu nascimento restaram ruídos e destroços. na minha primeira respiração ao abrir os olhos percebi que nunca me coube esse molde que rasguei, se revelou casulo. cortei embaralhados fios translúcidos cegos de certezas fálicas. dentro do casulo tive que evitar orgasmos e mastigar ofensas amargas. embrulhei no estômago feitiços contra terríveis que me cuspiram a face. antes de libertar minha essência apodrecia nos meus ouvidos bocas sujas de insultos. ao nascer guardei todo ódio e amor dentro da concha, búzio, crustáceo. esqueci ali tudo que existiu antes de nascer. desde então desfrutei de todo prazer macio da minha pele, de calafrios que percorrem meu corpo. meu sorriso cega qualquer um que me abandona.
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Nascimento da Tropicaos
instalação de vídeo em quatro canais [loop]
exposição Ninguém me dirá quem sou nem saberá quem fui
Galeria Mama/Cadela, Belo Horizonte/MG
junho–julho 2017
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